sábado, 11 de setembro de 2010

"mas, se éramos homens o bastante, admitiríamos que havia também dentro de nós, por mais débil que fosse, uma certa receptividade à terrível franqueza daquele alvoroço, uma vaga suspeita de que havia ali um significado, que nós - tão distantes da noite das primeiras eras - podíamos compreender. E por que não? A mente humana é capaz de qualquer coisa - porque tudo está nela, todo passado, bem como todo futuro. O que havia ali, afinal? Alegria, medo, tristeza, devoção, valor, ódio - quem poderia dizer? Mas a verdade... a verdade despia-se de seu manto temporal. Deixem o tolo embasbacar-se e estremecer - o homem verdadeiro saberá compreender e contemplará tudo sem pestanejar. Mas deve ser no mínimo tão homem quanto aqueles na margem do rio. Deve encontrar aquela verdade com sua própria verdade - com sua força inata. Princípios não vão adiantar. Bens, roupas, panos bonitos... que voariam na primeira sacudidela. Não. O que se precisa é de uma crença deliberada. Exerceria aquele demoníaco tumulto alguma atração sobre mim? Quem sabe? Muito bem, estou escutando, posso até admitir, mas tenho uma voz também que, bem ou mal, não pode ser silenciada. Naturalmente, um tolo, com seu pavor habitual e seus nobres sentimentos, estará sempre a salvo. Quem está resmungando? Vocês podem até imaginar, por que não fui à terra uivar e dançar? Bem, na verdade, não fui. Nobres sentimentos uma ova! Eu não tinha tempo."

- Coração das Trevas, Joseph Conrad

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