domingo, 2 de janeiro de 2011

Joyceanas II: "Poeira ao vento"



A lontra, agora, emerge do lago,
trovadora de nossos sonhos,
e sorve a madrugada virgem.
Pés pantanosos, varamos nús,
Navegadores ancorados.
Poeira ao vento que me diz:
“Estou no fundo do infinito”
E o sol nasce escuro.

Manhã embriagada de febre. Manhã
de lua nova que quer viver. Manhã,
de todos os deuses, sigilosa. Manhã,
filha harmoniosa, em teus braços nasceste...

... No fundo do infinito, ante o pávido,
Colosso segredo da madrugada.
Esta hora, ouvir o primeiro entoar
de saracura, santo menestrel que
nos desperta, vigilante. E a Lua,
dardejante amante da Terra bruta,
onde a cobra se faz passante,
onde o Sol erige um túmulo.

Alvorada, triste alvorada de breu;
Alvorada, Mãe artimanhosa de sóbrio céu
em tua ventríloqua esperança perdemos
os dias morgados nos quais rogamos,
boquiabertos, externando nossos cantos:

“Somos poeira ao vento,
no fundo do infinito,
vigiando um firmamento,
tão calmo e tão aflito.”