domingo, 12 de dezembro de 2010

Joyceanas I: "Concerto di Giovanni"


A sonolência dos olhos afina
as tarrachas do banjo e, catatônico,
reconhece neste gesto mudo do mundo:
o que é verdade assombra.

Lume, dura-lume, paira tátil
no instante epifânico da morte.
Morte, seca-morte, ritornelo
Q´oramos pra que haja, nesta praia...

Passos, razos passos, poucos santos
no véu que rompemos no traço.
Conosco quebram ondas sozinhas,
nos passos, estamos sozinhos.

Sozinho, coração selvagem da vida,
Cão-de-raça em sobressaltos cintilantes
congela nas dunas cor-de-aveia,
convida a manta negra das estrelas,
espectro natibundo, o furor
dos fogos de artifício, dardejantes.

Explodem fogos messiânicos, quando
tudo é estático, perene no céu.
Malva-de-estrela-morta, retumtibitiante
faces pálidas, uvas alvas, violinos...

Natureza-morta, coração sevalgem da vida:
o que é verdade é sozinho.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Às pipas do Complexo do Alemão


Deve de existir algo além
do vidro moído nos dedos infantis,
nos gracejos indômitos dos papagaios
em um céu tão escarlate, sibilante
registrado no livro dos dias.

Quantos sonhos não deixamos
para trás...?

Entulhados na fábrica
de Pandoras, para vingarmos
a insulta injuriosa dos famintos,
a tarde entediada dos meninos,
que são todos como nós.

Nós, cavaleiros do céu,
empunhamos o carretel, e ajoelhados
oramos, bendito o fruto do vosso ventre
nesta cruzada pela supremacia
do azul que resplandesce, infinito.

Deve de existir algo além
do dourado flamejante das pipas,
do reino das barricadas, da ascenção
ao monte Olimpo, onde Zeus, o onipotente,
derrama lágrimas de cristal ao invés de relâmpagos
pelo filho herculoso, enterrado
na curva atlântica do Cruzeiro.

... mas te vi, e quis ser fraco.
Quis ser de papel. Troquei meu carretel,
pruma rede torta do pantanal, onde sonho
ao odor dos camalotes, sentir
o mãe-da-noite me invocar,
e o trem que cruza o Brasil
longínquo, passar.

Longínquo, passar.